Olá a TODXS,
Penso que o papel do CFP e dos CRP no processo que culminou nas votações de temas contra os quais nossa classe se manifesta – como no caso do Ato Médico, aprovado no último dia 18.06 – é uma pauta social de relevância demasiado extensa para se limitar aos escaninhos da classe e, por esta razão, vale à pena dedicar-lhe reflexão, registro e difusão ampla de ideias. Faço isso, portanto, através da presente carta aberta, cujo pronome de tratamento – TODXS – encerra a ideia de pluralidade que deve reger o cuidar e servir sociais de quem se dispõe a ser agente de transformação social em nossos dias.
Nosso sistema de democracia
representativa está demonstrando seus limites ante as demandas sociais
emergentes. Sucede daí, o desafio fremente de reelaborar tanto nossas matrizes
políticas, quanto nossas matrizes legais e, numa dimensão mais sociológica,
nossas matrizes institucionais. Entretanto, nada disso acontecerá sem
organização, seja qual for seu matiz analítico escolhido. Neste sentido,
destaque-se nossa fragilidade secular de promover mobilização e participação
desorganizadas e sem princípio de constituição, prescindindo dos instrumentos
de agendamento político, criação de bases colaborativas mais consistentes e
articuladas com valores, fundamentos, competências, atitudes e, por que não, novas
utopias.
Donde venho esclarecer, aponto,
portanto, um problema que me parece central: a falta de qualidade operacional
e de integração sistêmica de nossas pautas propositivas, salgada ao
extremo pela fragilização quase irresponsável de processos de organização
interna de categorias profissionais e da sociedade como um todo. Por este viés,
sói averiguar abandalhas e conveniências nos processos eleitorais e no
acompanhamento das gestões eleitas, terreno mesmo dos maiores trabalhos da cidadania
– acompanhamento, controle e cobrança.
O CFP, os CRP e as demais
organizações de representação profissional têm replicado estas falhas e
insuficiências em vários casos como na questão do Ato Médico e nós,
representados – mais ou menos atuantes – resistimos imensamente à autocrítica e
à busca por um discurso de categoria, cujo critério constitutivo seja o
fortalecimento profissional e político e inclua a necessidade inexorável de
saber fazer mobilização política também ao nível técnico. Isso dá muito trabalho, é muito distante do que precisamos... Já
ouvi personagens centrais de nossas estruturas representacionais, cuspirem.
Bem, os resultados sobre os quais
choramos nossas mágoas me parecem os melhores indicadores de que isso também
reflete nossa resistência histórica enquanto cidadãos em relação a aprender
como fazer política, pensar politicamente e nos preparar para um enfrentamento
que vai além da participação em passeatas, na assinatura de termos de repúdio e
nos leva ao cerne da necessidade de construção de novos dispositivos de
controle social. Este tipo de controle que também deve nascer de iniciativas
não partidárias.
Devemos avançar na estruturação
política e administrativa de nossas ações, na elaboração de modelos conceituais
e metodológicos, discutidos e aprofundados em reuniões sistemáticas para
interlocução política entre os diversos grupos e atores mobilizados ao nível
dos poderes central e local e órgãos da administração direta e indireta do
Estado Brasileiro. Só que isso, como já disse, dá trabalho e, sem querer, somos
pegos pela mesma estimativa rasteira com a qual atiramos nossas pedras alhures:
trabalharam pouco, não foram diligentes o
suficiente, não deveriam nos representar.
Busquemos operacionalizar ações
públicas aos níveis municipal e estadual, transpondo referenciais cognitivos e
formais da política como ação e ética postulante, definir exaustivamente
objetivos e planos de ação, para a execução pelos parceiros assim como prever a
finalização das ações planejadas e registrar os avanços e obstáculos, com vistas
a redefinir formas de atuação, sistematização de dados quantitativos e
qualitativos e início das ações planejadas de forma participativa pelos
próprios interessados, sejam eles psicólogos, ou outros parceiros da sociedade
democrática.
Dito isso, correndo o risco de
terminar muito abruptamente, convido a TODXS para somar os milhões necessários à mudança.
Vamos às ruas, com o compromisso de pensar no que cada qual fez – de fato –
para impedir as inglórias derrotas que sofremos.
Um Abraço fraterno,
José Mattos Neto
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